Vidas negras importam: o que podemos fazer na luta contra o racismo?

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Postado dia 3 de novembro de 2020 por


Neste ano de 2020, o movimento Black Lives Matter voltou a chamar atenção e trouxe muitas reflexões para a sociedade. Em meio à pandemia, uma onda de protestos antirracistas nos Estados Unidos aconteceu e abriu os olhos para muitos sobre racismo, violência e representatividade.

Infelizmente, pesquisas e estatísticas mostram que o negro ainda sofre racismo em diferentes situações e lugares e, por isso, a luta contra a discriminação racial ainda é necessária e muito presente.

De acordo com pesquisa da Universidade de Harvard, pessoas negras têm uma probabilidade três vezes maior do que pessoas brancas de serem mortas por agentes de segurança.

No Brasil, não é muito diferente. O Atlas da Violência, elaborado a partir de uma parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Instituto de Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios.

Além disso, outros indicadores mostram grande disparidade racial. Os negros ganham menos do que os brancos tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A taxa de analfabetismo entre os negros é maior e os negros são sub-representados nos Congressos e Executivos dos dois países.

Os dados mostram que a desigualdade ainda é grande. Por isso, o movimento Black Lives Matter teve tanta relevância nesse ano e a luta contra o racismo deve envolver toda a sociedade. A seguir, vamos entender melhor o que é esse movimento e como reagir diante de atos de racismo.

Leia também: A autoestima e saúde mental do negro no Brasil

O que é Black Lives Matter?

Este movimento foi fundado em 2013 em resposta à absolvição do homem que matou Trayvon Martin, jovem estudante negro de 17 anos. Ele foi morto na Flórida quando caminhava para a casa do pai, desarmado, e um vigilante de segurança suspeitou, o perseguiu e atirou. Desde esse acontecimento, outras mortes de negros inocentes aconteceram e protestos começaram com o objetivo de expor a violência quando as pessoas negras são abordadas nos Estados Unidos.

Nesse contexto, surgiu o movimento Black Lives Matter, liderado por três mulheres. Hoje, é uma fundação global cuja missão é “erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras” pelo Estado e pela polícia.

Black Lives Matter em 2020

Em maio de 2020, a morte de George Floyd, de 46 anos, reascendeu o debate sobre a brutalidade da polícia contra as minorias raciais nos EUA. Floyd era um homem negro, estava desarmado, e morreu depois de ser imobilizado no chão por um policial branco.

Um vídeo de 10 minutos filmado por uma testemunha mostra Floyd suplicando e dizendo repetidamente “não consigo respirar” para o policial branco. A morte chamou atenção para a violência policial, as estatísticas preocupantes e desencadeou uma onda de protestos antirracistas nas ruas e nas redes sociais.

Famosos e anônimos de diversos países usaram a hashtag #BlackLivesMatter em suas redes. No Brasil, na mesma época, também se destacou o caso do adolescente negro João Pedro Mattos Pintos, de 14 anos, que morreu atingido por um tiro durante operação policial no Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro.

Com esses acontecimentos, muitas pessoas também passaram a cobrar posicionamento de empresas e buscaram saber melhor o que fazer para ajudar na luta contra o racismo. Segundo o Google, “violência policial”, “racismo” e “racismo estrutural” foram termos que tiveram um grande aumento nas buscas entre maio e junho de 2020.

Racismo estrutural e institucional

O racismo estrutural é um termo usado para reforçar o fato de que há sociedades estruturalmente baseadas na discriminação que privilegia algumas raças em detrimento de outras. Já o termo racismo institucional é a manifestação de preconceito racial por parte de instituições públicos ou privadas.

Por mais que leis garantam a igualdade, o racismo é um processo histórico que modela muitas sociedades até hoje. Os dados que mostramos no início do texto exemplificam isso.

O Brasil foi o último país da América que aderiu à libertação das pessoas escravizadas, em 1888. E, mesmo que livre, a população negra não tinha opções de emprego ou educação. Sem oportunidades, muitos se viram nas ruas, sem dinheiro, sem comida, sem educação e sem emprego.

A exclusão dos negros na sociedade e a negação das suas práticas culturais, principalmente, as religiosas, levaram à continuidade do racismo em sua forma estrutural. As religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, são constantemente vítimas de preconceitos, discriminação, piadas e mitos.

Autoestima e saúde mental da população negra

As dificuldades enfrentadas, os atos de racismo e a falta de representatividade são alguns fatores que afetam a saúde mental da pessoa negra. A cada dez jovens que se suicidam no Brasil, seis são negros. Esse dado é de um levantamento do Ministério da Saúde e da Universidade de Brasília, e preocupa muito.

Muitas vezes, as queixas raciais são subestimadas ou tratadas como algo pontual, e o estigma em torno do suicídio contribui para o silêncio sobre o tema. De acordo com a pesquisa, a tendência da taxa de mortalidade por suicídio entre adolescentes e jovens negros teve um crescimento significativo no período de 2012 a 2016.

A ausência do sentimento de pertencimento, a solidão, a rejeição e o sentimento de inferioridade são algumas das causas associadas ao suicídio de jovens negros. Muitos sofrem bullying, têm medo de sair de casa e da abordagem policial, além de sofrerem psicologicamente e fisicamente o racismo. Essa insegurança e esse temor constante é muito duro para crianças e jovens negros.

Leia mais: A autoestima e saúde mental do negro no Brasil

Como ajudar na luta contra o racismo?

Todos temos responsabilidade de contribuir para a mudança e a busca pela igualdade. Pequenos atos podem significar grandes mudanças. Confira algumas dicas:

Informe-se

É preciso entender a realidade e a história de etnias diferente da sua. Olhar para quem está ao seu lado, pesquisar a história de culturas e povos, conversar e principalmente escutar. Além de se educar a partir de livros e textos sobre o racismo, é possível aprender com vários filmes e séries que debatem a causa;

Incentive as pessoas a serem antirracistas

Se você é branco, não tenha vergonha ou medo de falar sobre racismo com outras pessoas brancas. Vale dar um toque para familiares, amigos e até desconhecidos;

Eduque as crianças

É muito importante educar desde pequeno sobre o respeito à diferença. Isso pode ser feito com brinquedos, histórias e dando o exemplo.

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Como denunciar atos de racismo?

No Brasil, racismo e injúria racial são atos criminosos. O racismo é a conduta preconceituosa, dirigida a um grupo, sem atacar alguém em específico. Esse crime pode ocorrer de diversas formas, como a proibição de frequentar espaços públicos ou a não contratação de pessoas negras.

Já a injúria racial é direcionada para uma pessoa específica, onde a vítima é escolhida precisamente como um alvo de discriminação, causando desestabilização psicológica. Além dessa diferença, o racismo pode ser denunciado por testemunhas, mas no caso de injúria, a própria vítima precisa se manifestar.

É muito importante que casos como esses citados acima sejam denunciados. Isso pode ser feito de diferentes maneiras. Entenda:

Pela internet

Em casos que ocorrem na própria internet, como redes sociais, sites ou até mesmo em jogos on-line, o usuário pode acessar o site Safernet, escolher o motivo da denúncia e enviar o link do site onde ocorreu o crime;

Pelo telefone

Para denunciar casos tanto de injúria racial como de racismo pela internet, é possível ligar para o Disk 100, o serviço do Governo Federal que recebe denúncias de violação de direitos humanos;

Na delegacia

A denúncia contra crime de racismo também pode ser feita em delegacias comuns e especializadas em crimes raciais e delitos de intolerância.

É muito comum que pessoas compartilhem publicações com teor racista nas redes sociais com o objetivo de denunciar os casos. Porém, esse comportamento não é recomendado. Esse tipo de disseminação pode acabar colaborando com a visibilidade do agressor, muitas vezes, sendo esse o objetivo dele.

Se estiver passando por algum problema ou situação difícil, você pode entrar em contato também com o Programa de Apoio ao Empregado.

Esse conteúdo foi desenvolvido pela Latinmed, agência de comunicação e marketing para área de saúde; e validado pela CGP Brasil, especializada em Programas de Assistência ao Empregado.

Está passando por alguma dessas situações ou precisa de ajuda em alguma outra questão?

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Se você sentir que é uma ameaça para si mesmo ou para outra pessoa, entre em contato com o d ou ligue para o telefone de emergência 190 ou para 188 para falar com o CVV – Centro de Valorização da Vida em todo o território brasileiro.